Um diagnóstico positivo de câncer é o tipo de notícia que ninguém quer receber. É um momento difícil para todos os envolvidos. Para o médico, informar o paciente é um desafio que demanda sensibilidade e empatia. Para o paciente, a notícia pode ser devastadora emocionalmente. Porém, devemos lembrar que há todo um universo de pessoas indiretamente envolvidas que vai muito além do médico e do paciente: estou falando da família. Maridos, esposas, pais, mães, filhos… os familiares que vivem (e convivem) com ele são parte importante da sua vida, e o suporte deles têm grande valor ao longo do tratamento do paciente.
Vou listar abaixo algumas características e comportamentos que considero fundamentais para que o tratamento seja o menos doloroso possível para todos os envolvidos:
Amparo no tratamento do paciente
Amparo é fundamental, e começa já no momento de receber o diagnóstico. Eu sei como é difícil dar a notícia, e sei também que nunca é fácil recebê-la. Porém, é importante que a família seja a base de sustentação para o paciente, e que esteja lá, firme e confiável, para ampará-lo em todos os momentos.
Vou dar um exemplo que aconteceu comigo: certa vez, tive que informar a uma paciente, ainda na casa dos 50 anos, que ela estava com câncer. A filha, que estava junto, não recebeu tão bem a notícia: desesperou-se, e tivemos que acalmá-la mais que o paciente, tirando o foco do atendimento ao mesmo.
Imagine como a mãe não ficou abalada. Além de ter que lidar com o câncer, ainda viu sua filha – que deveria ampará-la – entrar em desespero. Não existe um jeito fácil de receber a notícia, mas deve-se sempre tentar manter a calma e uma postura positiva, de encorajamento e união.
Somos todos humanos, então, o familiar pode desabafar com alguém ou chorar quando estiver sozinho. Mas é bom evitar demonstrar fragilidade na frente do paciente. Uma boa sustentação e amparo familiar fazem com que ele sinta-se mais motivado para seguir com o tratamento. Se a família “desmoronar”, ele acaba caindo junto.
Presença
Quando ficamos doentes, queremos alguém para cuidar de nós. Isso vale para uma simples gripe, e também para um tratamento de câncer. Se o amparo é importante, a disponibilidade também é: os familiares precisam estar lá, apoiando e dando carinho ao paciente. Ele precisa saber que é querido e que não está sozinho.
Porém, deve-se fazer isso sem exageros: vitimizar o paciente pode deixá-lo fragilizado. Em muitos casos, o paciente segue uma vida praticamente normal durante o tratamento, e é importante que ele sinta-se animado e capaz.
“Estar presente” é algo que pode ser feito de diversas formas:
- Acompanhe o paciente às sessões de tratamento;
- Ouça suas dúvidas e anseios;
- Tenha sempre um ombro e uma palavra tranquilizadora para oferecer; e
- Esteja lá quando ele precisar, mas não o sufoque.
Informação
Quanto mais temos conhecimento sobre uma doença, menos assustadora ela parece. Então, estar bem informado sobre o câncer, os tratamentos e a condição geral do paciente são coisas que ajudam a clarear a mente e melhorar o astral da família.
Claro que é importante saber onde buscar essas informações: na internet, encontramos todo tipo de absurdo, então não acredite em tudo o que o Google te mostra. Em vez disso, converse com médicos, acesse blogs e sites de profissionais confiáveis, busque fontes legítimas e respaldo especializado em tudo o que descobrir.
Com essa mistura de suporte, carinho e informação, a família sem dúvida vai estar apta a passar pelo tratamento unida, com resiliência e serenidade. Isso vai ser bom para todos, inclusive para nós, médicos, que poderemos fazer a nossa parte com mais tranquilidade, sabendo que o paciente estará em boas mãos.
Você tem alguma outra dica para compartilhar? Escreva aqui abaixo o que mais a família pode fazer neste momento.