Quando se trabalha na área da saúde, abordar o diagnóstico positivo de uma doença sempre é um momento delicado. No caso do câncer é ainda mais complicado, uma vez que a doença é envolta por muitos estigmas que tendem a deixar o paciente nervoso, visto que ele pode encarar a notícia como uma sentença.
Não precisa ser assim, ainda que seja normal que isso aconteça: somos todos seres humanos, queremos sempre o melhor para nós mesmos e para as pessoas que amamos. Quando surge uma enfermidade, ficamos abalados e nosso cérebro já começa a criar o pior cenário possível, que nem sempre é o verdadeiro. Graças aos constantes avanços da medicina, o câncer pode ser tratado de diversas maneiras e o diagnóstico precoce sem dúvida aumenta as chances de remissão.
Isso varia de caso a caso. O fato é: no momento de dar a notícia, cabe a nós, médicos, fazer o possível para amenizar o impacto do paciente, e, claro, tirar todas as dúvidas que ele possa ter sobre a doença e o tratamento que ele terá pela frente. Apesar de já saber lidar com essa questão, afinal são vários anos atuando como cirurgião torácico, neste momento eu prezo por praticar ainda mais a minha:
Empatia
Coloco-me no lugar de quem está à minha frente. O bom médico sempre leva em consideração as emoções do paciente ao dar a notícia. Cada pessoa reage de um jeito e eu preciso ter empatia e sensibilidade para lidar com as dúvidas e anseios de cada um.
Não basta apenas passar a mensagem: faço questão de mostrar ao paciente que estou ali por ele, que me importa e farei o que estiver ao meu alcance para ajudá-lo.
Clareza ao comunicar ao paciente
Embora eu como médico tenha um maior entendimento sobre o quadro clínico do paciente, preciso me comunicar com clareza, passando credibilidade nas informações e evitando termos técnicos que possam dificultar o entendimento de quem é leigo no assunto. Pergunto sempre se entendeu tudo e se ficou com alguma dúvida.
Certos pacientes podem vir com perguntas difíceis de responder (exemplo: “quanto tempo de vida lhe resta”). Novamente, a empatia faz-se necessária, e cabe ao meu papel como profissional discernir até que ponto a questão deve ser abordada – sempre com o respaldo clínico – com base na relação médico-paciente já estabelecida.
Também devemos levar em conta a participação da família: em certos casos (se um paciente não tem condições físicas ou psicológicas de compreender seu quadro, por exemplo), o diagnóstico deverá ser passado aos familiares.
Ambiente
Pode parecer estranho, mas até o ambiente é capaz de afetar o psicológico do paciente. Clínicas com pouca iluminação, paredes escuras, tornam o ambiente opressivo e claustrofóbico na hora do paciente receber um diagnóstico de câncer.
Não é de hoje que estudos são feitos para descobrir como a luz afeta o comportamento das pessoas, influenciando na tomada de decisões e até no combate à depressão. O ambiente claro parece mais amplo e consegue ser mais convidativo e acolhedor. Há todo um universo a ser estudado sobre a psicologia das cores (dica: verde claro é uma cor que transmite sensações de frescor e harmonia, e o azul claro, como tenho em meu consultório, inspira relaxamento), mas, via de regra, clínicas e consultórios devem ser sempre arejados e bem iluminados, para aumentar a sensação de bem-estar tanto de pacientes quanto de profissionais – a luz natural é especialmente recomendada.
Comunicar um diagnóstico de câncer nunca é fácil, mas é meu dever fazer isso com sensibilidade e profissionalismo.
O que mais você acha importante na hora de um profissional comunicar ao paciente?